Faz hoje 39 anos que saí da cidade, que me acolheu na
minha adolescência, com a minha mala de cartão xadrez cheia de livros (Dostoievski,
Tolstoi, Gorki, Victor Hugo, Desmond Morris, Kant, Trindade Coelho, Eça de
Queirós, Torga, entre outros) e os vinil e LP de Zeca Afonso, Adriano, Beatles
e outros (muitos deles eram lidos e ouvidos às escondidas, bem como a rádio
Argel, porque eram proibidos). Nessa mala iam sonhos, muitos sonhos e muita
ansiedade. Precisava de trabalhar e estudar.
Alguns dos meus colegas de Liceu já andavam por lá,
muitos deles, envolvidos nos movimentos estudantis, perseguidos pela PIDE,
presos. Lutava-se na clandestinidade para derrubar o Fascismo, terminar com a
Guerra Colonial e por uma SOCIEDADE DIGNA, JUSTA e IGUALITÁRIA.
É esta ambiência que me acolhe na Lusa Atenas, a integração foi fácil. Relacionei-me com pessoas de
todas as idades, classes sociais e de diferentes etnias. As convicções eram as
mesmas.
Trabalhei, estudei, lutei, fui mãe, e cresci como
mulher e cidadã. Sobrevivi com muita coragem e dignidade.
Valeu a pena!
Chegou aquela madrugada de Abril!
A notícia difundia-se na rádio e a Felicidade
transbordava dos nossos jovens corações.
Finalmente! A minha filha não precisaria de passar
pelo mesmo sofrimento.
Enganei-me… Ela está pior do que eu.
Estou muito magoada. Não foi para isto que a minha
geração lutou.
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