quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Magoada


Faz hoje 39 anos que saí da cidade, que me acolheu na minha adolescência, com a minha mala de cartão xadrez cheia de livros (Dostoievski, Tolstoi, Gorki, Victor Hugo, Desmond Morris, Kant, Trindade Coelho, Eça de Queirós, Torga, entre outros) e os vinil e LP de Zeca Afonso, Adriano, Beatles e outros (muitos deles eram lidos e ouvidos às escondidas, bem como a rádio Argel, porque eram proibidos). Nessa mala iam sonhos, muitos sonhos e muita ansiedade. Precisava de trabalhar e estudar.

Alguns dos meus colegas de Liceu já andavam por lá, muitos deles, envolvidos nos movimentos estudantis, perseguidos pela PIDE, presos. Lutava-se na clandestinidade para derrubar o Fascismo, terminar com a Guerra Colonial e por uma SOCIEDADE DIGNA, JUSTA e IGUALITÁRIA.

É esta ambiência que me acolhe na Lusa Atenas, a integração foi fácil. Relacionei-me com pessoas de todas as idades, classes sociais e de diferentes etnias. As convicções eram as mesmas.

Trabalhei, estudei, lutei, fui mãe, e cresci como mulher e cidadã. Sobrevivi com muita coragem e dignidade.

Valeu a pena!

Chegou aquela madrugada de Abril!

A notícia difundia-se na rádio e a Felicidade transbordava dos nossos jovens corações.

Finalmente! A minha filha não precisaria de passar pelo mesmo sofrimento.

Enganei-me… Ela está pior do que eu.

Estou muito magoada. Não foi para isto que a minha geração lutou.

 

 

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