segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ariane


Ariane é um navio.
Tem mastros, velas e bandeira à proa,
E chegou num dia branco, frio,
A este rio Tejo de Lisboa.

Carregado de Sonho, fundeou
Dentro da claridade destas grades...
Cisne de todos, que se foi, voltou
Só para os olhos de quem tem saudades...

Foram duas fragatas ver quem era
Um tal milagre assim: era um navio
Que se balança ali à minha espera
Entre as gaivotas que se dão no rio.

Mas eu é que não pude ainda por meus passos
Sair desta prisão em corpo inteiro,
E levantar âncora, e cair nos braços
De Ariane, o veleiro.

MIGUEL TORGA Prisão do Aljube - Lisboa, 1 Jan 1940

4 comentários:

Maria disse...

O que este e outros Homens sofreram...
e que poema tão belo!
Obrigada!

Beijinho

Maria Fernanda disse...

Deve permanecer viva na nossa memória e sobretudo na das novas gerações.
beijinho

Carlos Faria disse...

Já há algum tempo que por cá não passava, está poético e com excelentes fotografias... não dá para comentar todos os poemas assim... fica só registo da passagem

Anónimo disse...

Grande Torga!

Não ganhou o Nobel...mas ganhou-nos a todos.